Você já assistiu à série Adolescência, da Netflix? O sucesso global da produção chama atenção ao retratar, de forma intensa e realista, os desafios desse período da vida. Com temas como conflitos familiares, violência nas escolas e a influência negativa das redes sociais e de influenciadores misóginos, a série lança luz sobre um universo complexo e, muitas vezes, negligenciado: o da saúde mental dos adolescentes.
Ao assistir, muitos pais passaram a se questionar: “Será que meu filho precisa de terapia?”
Essa dúvida é mais comum do que parece — e absolutamente legítima. A adolescência é uma fase de intensas transformações físicas, emocionais e sociais. Entre medos, descobertas e inseguranças, os sinais de que algo não vai bem podem ser sutis… ou bastante evidentes.
Dados que preocupam
Segundo a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), ligada ao SUS, os transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes superaram, pela primeira vez, os índices observados entre adultos no Brasil.
Em 2023, a taxa de jovens de 10 a 14 anos atendidos por ansiedade chegou a 125,8 casos por 100 mil habitantes. Entre adolescentes, esse número saltou para 157 por 100 mil — enquanto entre adultos acima de 20 anos, a taxa foi de 112.
Além disso, dados da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE) mostram um crescimento alarmante nos diagnósticos de depressão entre jovens de 18 a 21 anos: de 2,47% em 2013 para 6,23% em 2019 — um aumento de 152%.
Esse cenário tem muitas causas: o acesso precoce à internet, a exposição constante às redes sociais, a cultura da comparação, o cyberbullying, o isolamento emocional… tudo isso afeta profundamente o desenvolvimento dos adolescentes.
Mas afinal, quando o(a) jovem precisa de terapia?
Alguns sinais merecem atenção especial dos pais ou responsáveis. Veja alguns exemplos:
- Mudanças bruscas de humor ou comportamento
- Isolamento social ou dificuldade para se relacionar
- Queda no desempenho escolar ou desmotivação
- Tristeza profunda, ansiedade ou irritabilidade frequente
- Dificuldade em lidar com perdas, mudanças ou conflitos familiares
- Comportamentos de risco, como automutilação ou uso de substâncias
Esses sinais não indicam, necessariamente, um problema grave, mas mostram que o adolescente pode estar precisando de um espaço seguro para expressar o que sente — sem julgamentos ou pressões.
Os benefícios da terapia na adolescência
A psicoterapia de orientação analítica oferece um ambiente de escuta, acolhimento e reflexão. Entre os principais benefícios estão:
- Autoconhecimento: o jovem aprende a identificar e compreender seus sentimentos, desejos e conflitos.
- Desenvolvimento emocional: fortalece a autoestima, a autonomia e a empatia.
- Melhoria na comunicação familiar: contribui para vínculos mais saudáveis entre pais e filhos.
- Prevenção de adoecimentos mentais: quanto mais cedo a escuta acontece, menores as chances de agravamento.
O processo terapêutico respeita o tempo do adolescente. Nem sempre ele se abrirá na primeira sessão — e tudo bem. O importante é que ele se sinta ouvido, compreendido e acolhido.
Em alguns casos, além da terapia individual, pode-se indicar a participação dos pais, sessões familiares ou até grupos terapêuticos, de acordo com a necessidade.
O papel da família nesse contexto
O envolvimento da família é essencial para o sucesso da terapia. Quando os pais praticam a escuta ativa, o diálogo aberto e o respeito ao espaço emocional do filho, criam um ambiente mais saudável para seu desenvolvimento.
Se você percebe que seu filho tem enfrentado dificuldades emocionais, não hesite em buscar ajuda profissional.
A adolescência pode (e deve) ser uma fase de crescimento, amadurecimento e construção de identidade — e o suporte certo pode fazer toda a diferença.
É por isso que é importante que a terapeuta acolha adolescentes com escuta atenta, empatia e uma abordagem analítica que respeita a singularidade dessa fase da vida.