A Páscoa, para muitos, é sinônimo de reunião familiar, renascimento e renovação. É um momento simbólico, que resgata valores de afeto, fé e união. Mas nem sempre esses encontros são leves. Para algumas pessoas, estar em família significa reviver feridas emocionais, lidar com cobranças e se proteger de perguntas invasivas.
“Quando vai casar?” “E ter filhos?” “E o emprego novo?” “Vai fazer um concurso?” “Você engordou?” Quem nunca ouviu uma dessas falas em um encontro em família e sentiu o desconforto e o peso dessas palavras. Algumas vezes, o que deveria ser um momento de afeto pode se transformar em um gatilho de ansiedade e frustração. E a terapia tem um papel fundamental na gestão dessas relações, por vezes conflituosas.
Família e a Saúde Mental: uma relação profunda
A família é a base da sociedade e deve receber especial proteção do Estado, como afirma o artigo 226 da Constituição Federal. Mas além do papel legal, ela representa um espaço de desenvolvimento humano, com potencial tanto para a proteção quanto para o sofrimento emocional.
O Observatório Nacional da Família (ONF), ligado à Secretaria Nacional da Família do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, destaca a importância da família na promoção da saúde mental. Já de acordo com a UNICEF, a convivência familiar estável é um direito inalienável de crianças e adolescentes e está diretamente relacionada ao seu bem-estar e desenvolvimento.
A família é, portanto, um espaço de aprendizado, cuidado e valores — mas também precisa ser cuidada.
Mas afinal, como a família pode contribuir positivamente para a saúde mental das pessoas?
- Apoio emocional: criar vínculos afetivos, demonstrar compreensão e respeito.
- Comunicação: expressar sentimentos, medos e preocupações com empatia.
- Participação: ser ouvida, valorizada e envolvida nos processos de cuidado.
- Acolhimento: sentir-se protegida e apoiada no convívio familiar.
- Fortalecimento: estimular autoestima e resiliência emocional.
- Enfrentamento: ajudar no enfrentamento de doenças e desafios mentais.
No entanto, sabemos que nem todas as famílias são fontes de apoio. Muitas vezes, são nesses espaços que nascem os traumas e o sofrimento psicológico. E reconhecer isso é o primeiro passo para quebrar ciclos de dor e criar novas possibilidades de relação.
E quando falamos em momentos como esse, da Páscoa, é ainda mais importante aprender e entender o que queremos e precisamos transformar em nossa convivência familiar. Aqui vão algumas dicas:
- Reflita sobre seus limites: você não precisa responder a tudo nem agradar a todos.
- Pratique o autocuidado: o seu bem-estar também importa. Caso alguma situação não faça bem, afaste-se!
- Crie novos rituais: em alguns casos, você pode viver a Páscoa de forma mais leve e significativa, mesmo que fora da tradição familiar.
Vale sempre lembrar, também, que buscar apoio profissional é importante. A psicoterapia é um caminho seguro para elaborar dores familiares, fortalecer sua identidade e construir relações mais saudáveis. A família tem um papel vital na saúde mental, mas precisa ser um espaço de escuta, respeito e cuidado mútuo. Se isso não é possível neste momento, saiba que há caminhos para reconstruir vínculos e criar redes de apoio mais saudáveis.
Que nesta Páscoa, o verdadeiro renascimento seja o do autocuidado, da coragem de se proteger e da esperança em relações mais acolhedoras.
Feliz Páscoa,
Anne Griza
Psicóloga