Hoje, decidi passar por aqui para abordar um tema que, à primeira vista, pode parecer pouco comum no ambiente profissional: os terapeutas e a terapia. Quando pensamos em psicólogos(as), muitas vezes os imaginamos como pessoas imunes a conflitos ou incertezas. No entanto, assim como qualquer ser humano, nós, terapeutas, também enfrentamos desafios, lidamos com questões pessoais e nos deparamos com dilemas no exercício da profissão.
Para oferecermos um atendimento de excelência, é indispensável cuidarmos da nossa própria saúde mental.
A terapia não é apenas uma recomendação, mas uma prática essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional de quem atua na área. Desde a graduação, somos incentivados a buscar acompanhamento terapêutico. Seja para compreender as complexidades da profissão, seja para trabalhar nossas próprias questões, a terapia é uma ferramenta indispensável. Afinal, é impossível acolher as emoções alheias de forma genuína sem antes compreender as nossas próprias.
Por que terapeutas fazem terapia?
- Autoconhecimento e equilíbrio emocional
A terapia permite que terapeutas explorem seus padrões de comportamento, emoções e conflitos. Esse processo fortalece a empatia, promove maior autocompreensão e evita que interferências pessoais prejudiquem o atendimento. - Prevenção de burnout
Lidar diariamente com histórias marcadas por sofrimento, traumas e desafios exige escuta ativa e atenção plena, o que pode ser emocionalmente exaustivo. A terapia oferece um espaço seguro para descarregar essa carga emocional, renovando as energias do profissional. - Evitar projeções
Imagine uma psicóloga que tenha enfrentado conflitos familiares e, em sessão, escute um paciente relatar experiências semelhantes. Se essa questão não foi trabalhada em terapia, existe o risco de projeção — ou seja, interpretar o caso a partir de sua própria vivência, comprometendo a neutralidade do atendimento. - Supervisão e aprimoramento profissional
Além da terapia pessoal, muitos terapeutas participam de supervisões clínicas, nas quais discutem casos de forma ética e confidencial. Essa prática, aliada à terapia, eleva a qualidade do atendimento e garante intervenções mais seguras e eficazes.
O impacto da terapia na prática profissional
Um terapeuta emocionalmente equilibrado é capaz de oferecer um espaço de acolhimento seguro e genuíno aos seus pacientes. Ele ouve sem julgar, compreende sem absorver o sofrimento alheio e guia sem impor soluções. Essa postura fortalece a relação terapêutica, inspira confiança e contribui para que o paciente encontre suas próprias respostas.
E, caso o paciente se pergunte: “Será que minha psicóloga já passou pelo mesmo problema que eu?”, a resposta é simples: isso não importa. O papel da psicóloga não é compartilhar vivências pessoais, mas sim ajudar o paciente a construir seu próprio caminho.
Benefícios diretos para os psicólogos
A prática da terapia proporciona:
- Maior capacidade de lidar com conflitos internos e externos;
- Fortalecimento da inteligência emocional;
- Crescimento pessoal e profissional;
- Prevenção de impactos negativos da transferência emocional.
Uma prática ética e necessária
Ao buscar terapia, os psicólogos não apenas cuidam de si, mas também garantem um atendimento mais ético e eficaz aos seus pacientes. Esse autocuidado permite que eles enfrentem a complexidade das histórias que escutam diariamente, com sensibilidade e profissionalismo.
Cuidar de si para cuidar do outro
Os psicólogos compreendem, melhor do que ninguém, o poder transformador da psicoterapia. E, assim como seus pacientes, merecem esse espaço para se auto conhecerem e se fortalecerem.
Cuidar da própria saúde mental não é apenas uma necessidade; é um compromisso ético e profissional.
“Cuidar da nossa saúde mental é um ato de amor por nós mesmos e pelos pacientes que confiam no nosso trabalho. Não podemos oferecer o melhor aos outros sem primeiro olhar para dentro de nós.”
Anne Griza
Psicóloga