Porto Alegre, Brasil

Psicólogos também precisam de terapia: por que cuidar de si é essencial para cuidar do outro?

Hoje, decidi passar por aqui para abordar um tema que, à primeira vista, pode parecer pouco comum no ambiente profissional: os terapeutas e a terapia. Quando pensamos em psicólogos(as), muitas vezes os imaginamos como pessoas imunes a conflitos ou incertezas. No entanto, assim como qualquer ser humano, nós, terapeutas, também enfrentamos desafios, lidamos com questões pessoais e nos deparamos com dilemas no exercício da profissão.

Para oferecermos um atendimento de excelência, é indispensável cuidarmos da nossa própria saúde mental.

A terapia não é apenas uma recomendação, mas uma prática essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional de quem atua na área. Desde a graduação, somos incentivados a buscar acompanhamento terapêutico. Seja para compreender as complexidades da profissão, seja para trabalhar nossas próprias questões, a terapia é uma ferramenta indispensável. Afinal, é impossível acolher as emoções alheias de forma genuína sem antes compreender as nossas próprias.

Por que terapeutas fazem terapia?

  1. Autoconhecimento e equilíbrio emocional
    A terapia permite que terapeutas explorem seus padrões de comportamento, emoções e conflitos. Esse processo fortalece a empatia, promove maior autocompreensão e evita que interferências pessoais prejudiquem o atendimento.
  2. Prevenção de burnout
    Lidar diariamente com histórias marcadas por sofrimento, traumas e desafios exige escuta ativa e atenção plena, o que pode ser emocionalmente exaustivo. A terapia oferece um espaço seguro para descarregar essa carga emocional, renovando as energias do profissional.
  3. Evitar projeções
    Imagine uma psicóloga que tenha enfrentado conflitos familiares e, em sessão, escute um paciente relatar experiências semelhantes. Se essa questão não foi trabalhada em terapia, existe o risco de projeção — ou seja, interpretar o caso a partir de sua própria vivência, comprometendo a neutralidade do atendimento.
  4. Supervisão e aprimoramento profissional
    Além da terapia pessoal, muitos terapeutas participam de supervisões clínicas, nas quais discutem casos de forma ética e confidencial. Essa prática, aliada à terapia, eleva a qualidade do atendimento e garante intervenções mais seguras e eficazes.

O impacto da terapia na prática profissional

Um terapeuta emocionalmente equilibrado é capaz de oferecer um espaço de acolhimento seguro e genuíno aos seus pacientes. Ele ouve sem julgar, compreende sem absorver o sofrimento alheio e guia sem impor soluções. Essa postura fortalece a relação terapêutica, inspira confiança e contribui para que o paciente encontre suas próprias respostas.

E, caso o paciente se pergunte: “Será que minha psicóloga já passou pelo mesmo problema que eu?”, a resposta é simples: isso não importa. O papel da psicóloga não é compartilhar vivências pessoais, mas sim ajudar o paciente a construir seu próprio caminho.

Benefícios diretos para os psicólogos

A prática da terapia proporciona:

  • Maior capacidade de lidar com conflitos internos e externos;
  • Fortalecimento da inteligência emocional;
  • Crescimento pessoal e profissional;
  • Prevenção de impactos negativos da transferência emocional.

Uma prática ética e necessária

Ao buscar terapia, os psicólogos não apenas cuidam de si, mas também garantem um atendimento mais ético e eficaz aos seus pacientes. Esse autocuidado permite que eles enfrentem a complexidade das histórias que escutam diariamente, com sensibilidade e profissionalismo.

Cuidar de si para cuidar do outro

Os psicólogos compreendem, melhor do que ninguém, o poder transformador da psicoterapia. E, assim como seus pacientes, merecem esse espaço para se auto conhecerem e se fortalecerem.

Cuidar da própria saúde mental não é apenas uma necessidade; é um compromisso ético e profissional. 

“Cuidar da nossa saúde mental é um ato de amor por nós mesmos e pelos pacientes que confiam no nosso trabalho. Não podemos oferecer o melhor aos outros sem primeiro olhar para dentro de nós.”

Anne Griza

Psicóloga

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